16/06/2016

O melhor do meu dia... #3

No dia 14 de Outubro de 2014 a S. escreveu-me, dizia:

Olá Vanessa. Felicito-a pelo seu blog e acima de tudo por ser uma mãe coragem. Não sou mãe...à semelhança do seu post de 12 de agosto "das coisas que não se perguntam"...tive perdas, mas não gosto de falar disso. Ficam as mágoas guardadas na gaveta do coração, sendo que deitei fora a chave que a abre. Continue a escrever dessa forma. Na maioria das vezes faz-me rir e em outras situações admito que fico com os olhos marejados de lágrimas.

Entre várias coisas, a S. falou-me da sua dificuldade em manter as gravidezes, contou-me que estava em processo de adopção, descobrimos que é familiar da minha grande amiga X., manteve-se até hoje numa das seguidoras mais assíduas e participativas do blog, tornamo-nos amigas pessoais no facebook e não nos conhecemos pessoalmente, AINDA!

Ontem dia 15 de Junho de 2016 a S. volta a escrever-me e por uns minutos o meu mundo parou, fez-se silêncio e os meus olhos não desviaram um segundo das suas palavras:  

Olá, sei que alguns de vós conhecem-me desde sempre e outros mais recentemente e outros ainda, conhecem-me apenas virtualmente, mas, com todos vós, e por um motivo ou outro da minha vida, os nossos caminhos cruzaram-se. Talvez nos próximos tempos eu vá estar ausente, a ser feliz. Ou melhor...a continuar a ser feliz...mas com uma nova agitação na minha vida: Vou ser mãe!!! Muitos de vós estão a pensar: Mãe??? Como assim? Eu respondo em alentejanês: Assim “derepentemente”!!! Bom … não foi de repente...muito menos ao fim de 9 meses...como é o normal. Vou ser mãe de coração (e de corpo e alma e com documentos oficiais) de duas crianças – o E de 4 anos e a M de 2. Sucintamente vou apelar a alguns mitos e verdades acerca de todo este processo e do que o antecedeu de uma forma socialmente correta, pois existem frases e observações que me deixam os pelos ouriçados (se bem que com isto não estou a dizer que sejam vocês a deixarem-me com os cabelos em pé) Assim e para desmistificar: - É mito a história da coitadinha que não pode ter filhos: De facto, não tenho qualquer problema em engravidar. Inclusivamente engravidei umas vezes, mas de todas perdi os bebés (tenho dificuldade em manter a gravidez, mas não tenho qualquer problema associado ou diagnosticado). Se doeu? Sim, Muito! Se isso foi o mote para adotar? Não. Podia ter tido a bravia que outras mulheres tiveram de fazer uma gestação totalmente acamada e sem certezas de um final feliz, à semelhança da B. das Crónicas de uma Grávida Acamada, mas NÃO. Não arrisquei. Puseram-se sempre tantas coisas a camuflar esse receio (o emprego, logística, as questões de saúde minhas e da própria criança, etc, etc.) que arrisquei não o fazer. Cobardia, talvez... ou forma desajeitada de defesa, nem sei bem. Depois de saradas as feridas e por ser uma pessoa muito bem resolvida com a vida, e por achar-me com a maturidade suficiente para um novo desafio, embarquei no mar revolto da adoção. Comecei pela Adoção Internacional com muitas aventuras e desventuras (desde a prisão da minha advogada indiciada por tráfico de criancinhas - o que me fez desistir de imediato) e acabei na Nacional, ao fim de quase 5 anos de espera. O que infelizmente nem se percebe, para que quem como eu queria uma adoção tardia e sem bebés de colo, sem etnia ou raça específica. Crianças são crianças em qualquer credo ou cor. Não me julguem boazinha ou caridosa neste ato. Qualquer pessoa que me conhece, vê que à 1ª vista (embora simpática q.b.) que o adjetivo “boazinha” NÃO se aplica a mim (principalmente a nível profissional). Para mim a adoção foi e é um processo totalmente EGOÍSTA, que vem ao encontro do meu desejo e vontade de criar uma família. Adoção não é um gesto heroico ou de caridade. Adoção é somente, e tão somente, uma forma legítima de filiação que permitiu tornar-me mãe. Não fizemos caridade. Muito menos me digam coisas como “Mas adotaste um já crescido em vez de um bebe" Pois, como referi se tivesse querido
 bebe tinha-o tido. Eu sou egoísta. Nesta fase da minha vida não queria (pese embora ainda vá ter) fraldas, biberons, noites mal dormidas, e como adoro viajar...quero pegar nos miúdos e ir...sem muita logística atrás de mim! Não é por ser mais crescido que o vou amar menos ou ela a mim. Afinal quantas vezes conhecemos amigos e conseguimos amá-los tanto ou mais do que família de sangue? Não me digam...como já me disseram: “Ainda bem que adotaste, assim na velhice não vai ficar sozinha: Hello??? Eu quis ter um filho...não um enfermeiro geriátrico! Ou ainda: “Mas não tens vontade de ter um filho que se pareça contigo de verdade? Que tenha seu sangue?”Hello novamente: - Não. Para isso teria que ser clonada como a ovelha Dolly!!! E estes meus filhos não são de verdade??? São meus!!! Com sentença judicial e tudo!!! Claro que também é um ato de amor, e é preciso estarmos preparados para amar um/uns "estranho (s)" e tornar-nos mães/pais dele (s), mas isso também é verdade que acontece com o nascimento, apenas é de outra maneira, pese embora estes meus seres tenham personalidade própria e verbalizem o que lhes vai na alma. Foi um longo caminho e vai sê-lo pela vida fora. O verdadeiro desafio! Tal como o de todos vocês que são mães e pais de forma biológica. Morro de ansiedade de os ter comigo e já só falta um bocadinhooooooo!!! Um bj grande e um abracinho apertado para vocês. S.

A S. acabava de comunicar ao mundo que ia ser Mãe! ❤️
  
Mas não terminava e comunicava-me só a mim que: 

Obrigada querida Vanessa. Você tem uma importância significativa porque ao ler o seu blog eu vi o quanto corajosa foi e o quanto receosa eu o fui por não ter tentado estar na sua situação! A vida tem destas coisas. Penso que por vezes é preciso perder uma coisa na vida para ganhar uma muito boa. Sofri muito desde 2010/2011 até agora. Esperei...esperei e esperei pelos meus filhos. Sei que ainda vai demorar um mês a tê-los comigo e sim...parece-me uma eternidade. Mas sei que no dia em os tiver comigo...vai ser para a vida toda. Aliás saiu-me o Jackpot Dois em um!!! Desde a semana passada que passo os dias com lágrimas nos olhos...de felicidade. Estou com medo, insegura e estou a viver num mês o que as mães vivem em 9 meses. Sei que um dia vamos conhecer-nos pessoalmente e sim, sou eu quem quer muito dar-lhe um abraço. Até lá... e se eu tiver duvidas e receios, espero socorrer-me dos seus conselhos e da sua experiência. Um beijo do tamanho do mundo. Obrigada

Querida S.,
Estou desejosa para conhecer os seus filhos, estou desejosa de os ver no seu colo, no seu abraço.
Obrigada pela referência mas... quem sou eu perante tamanho acto de coragem por quem se diz não a ter. 
Até breve! 

Caramba, e é isto, para mim é isto a essência do meu blog. 

Obrigada 

❤️❤️❤️❤️ 

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