31/03/2014

O meu escritório!



Neste pequeno hospital montado em plena sala, ainda há espaço para um escritório.

Este é o meu escritório, sim eu trabalho apesar das circunstâncias.

Mas isto só é possível quanto temos “entidades patronais” que nos permitem que isso aconteça.

Entidades patronais entre aspas porque na realidade sou prestadora de serviços, não estou sujeita a qualquer contrato de trabalho que protege os direitos de uma grávida e do seu bebé, pelo que se não estivesse a trabalhar, estava aqui uma bela situação, até porque, sou uma prestadora de serviços com uma caixa de previdência própria que para os casos em que me encontro não tem disponível qualquer subsídio para as suas contribuintes.

Estava nesta empresa há 2 meses quando descobri que estava grávida do V., não são 2 anos, são 2 MESES!
Esta foi a parte que mais me assustou, a situação profissional precária em que me encontrava e na realidade encontro…no entanto, a reacção à notícia da gravidez foi a melhor, e descansei!

Quando no dia 11 de Dezembro liguei a informar que estava no hospital (tinham passado agora 4 meses desde que tinha entrado na empresa) e que tinha, supostamente de ficar em casa por duas semanas, a primeira coisa que me disseram foi: O que interessa é que tu e o bebé fiquem bem, cá nos arranjamos!
(Atenção: o meu chefe é um homem! Não é administrador da empresa mas tem uma palavra a dizer enquanto team leader de uma equipa na qual estou integrada)

O tempo foi passando a situação agudizou-se e foi-me dada a possibilidade de trabalhar a partir de casa, o melhor que me podia ter acontecido sob pena de já estar louca a esta altura.

O facto de trabalhar ajuda muito, cada vez que era internada obrigava o A. a vir a casa buscar o computador, estava obcecada com o trabalho, agora a frio, acho que esta obsessão não era nada mais nada menos do que o meu escape, queria sentir-me ocupada e acima de tudo queria sentir-me útil.

A realidade é que até hoje não consegui lá por a barriga, digam lá se eles não me podiam ter posto a andar? O quê estás aqui há 2 meses e estás grávida? Estás aqui há 4 meses e dizes que se calhar só voltas quando o bebé nascer? Mas que obrigação é que eles tinham de manter uma pessoa nestas condições quando infelizmente há carradas de pessoas à procura de trabalho…nenhuma!

Mas felizmente ainda existem empresas bem estruturadas e bem administradas, estando à sua frente pessoas compreensivas, humanas e que têm a capacidade de olhar para os seus “funcionários” não como mais um, mas como o “funcionário” que está lá para fazer o barco andar.

Trabalho a partir de casa no alto da minha cama articulada, e tento diariamente ser o mais disciplinada possível e fazer os horários que faria se lá estivesse a trabalhar fisicamente, continuo a esforçar-me e a dedicar-me tal como faria se lá conseguisse estar, para mim, nada mudou.

Temos que ter a capacidade de saber agradecer quando o devemos fazer e não, falar só para criticar, não sei se tive sorte, se é por uma questão de necessidade, não sei o que é, sei que tenho e devo agradecer o facto de me terem deixado manter a minha sanidade mental, caso contrário o nome deste blogue era: Crónicas de uma Grávida Acamada internada num Hospício.


Obrigada!

28/03/2014

Bom fim-de-semana!



Aqui vai ser de certeza, a ver pela boa 6ª feira onde se contam… 28 semanas!

Hoje demos um pequeno suspiro de alívio!

Esta semana foi atípica, sai de casa 2ª feira para a consulta da diabetes e hoje fomos ver o baby V.

As notícias não podiam ser melhores, o descolamento já não é visível, ele está óptimo e sem qualquer consequência da diabetes.

Para a semana temos consulta com a Drª para mostrar a eco e perceber quais vão ser os próximos passos, já sei de antemão que não vou conseguir levar uma vida dita normal até ele nascer, face ao tamanho que o descolamento atingiu, mas já me contentava com um simples passeio ou um simples almoçar fora para desanuviar, nem que fosse uma vez por semana. A ver vamos!

Perante as boas notícias hoje não resisti e pedi ao A. para me levar com ele a buscar a M. à escola, estava tão feliz que não tive medo de correr o risco.
Estava desejosa de ver qual seria a reacção dela quando me visse na escola passados tantos meses.
Sorriu de imediato e veio na minha direcção de braços esticados, mas, assim que viu o pai, lembrou-se que não a posso pegar ao colo e seguiu em sua direcção, já no seu colo e enquanto fui buscar o casaco dela ouvi-a a dizer mamã, como que a chamar por mim - fiquei radiante! 
Sabia que corria o risco de me ignorar como por vezes faz cá em casa, mas não. Espero que tenha gostado tanto da surpresa como eu J 

Apesar de todas esta situação, o meu maior receio é que a M. me deixe de ver como mãe, deixe de gostar de mim ou deixe de achar que eu sou importante na sua vida, mas estas atitudes dela tranquilizam-me e fazem-me começar a perceber o sentido da frase: Mãe é Mãe!! 

Parece que é mesmo verdade que eles não se esquecem das suas mães.

Há lugares únicos nas nossas vidas e os das mães é o mais especial de todos os lugares na vida de um ser humano, espero e quero ser o "lugar" mais especial da vida da M. e do V. 

Com amor Mãe, 

27/03/2014

O Ninho… e não é do amor!!!



Aqui é onde passo 24 horas sobre 24 horas!

Transformar a sala num mini hospital foi sem dúvida a melhor opção, a cama articulada (aconselho a todas as mamãs na minha situação) acaba por ser bem mais confortável do que a cama do quarto, tenho a facilidade de me “sentar” ou deitar quando quero, sem ter que ter mil almofadas atrás das costas a desmaiarem a cada movimento meu.

Além do mais, consigo estar mais perto do A., da M. e da minha mãe (que se mudou de armas e bagagens cá para casa- é a MELHOR MÃE DO MUNDO) e desta forma deixei de estar sozinha no quarto, o que acontecia inicialmente antes de decidirmos alugar a cama articulada.
Estar sozinha no quarto entediava-me, entristecia-me e aborrecia-me MUITO!

Após o 1º internamento hospitalar que durou aproximadamente uma semana, voltei para casa e permaneci na minha cama. Passava muito tempo sozinha, porque a realidade é que a maioria de nós passa a maior parte do tempo na sala, o quarto é quase só um espaço para dormir. Como passado uns dias voltei a ter que ser internada e esse 2º internamento durou 15 dias (até à data no total foram 3 internamentos), foi nessa altura que decidimos que tudo seria mais fácil com o “ninho”.

A M. acha piada aos movimentos da cama e às vezes, só mesmo às vezes, gosta de se deitar ao meu lado e andar para cima e para baixo para trás e para frente como se um carrossel fosse, esses parcos segundos que a consigo manter deitada ao meu lado fazem o meu dia tão mais feliz.

Tenho aprendido que devo filtrar o melhor das situações menos boas da nossa vida, do “ninho” retiro os segundos em que consigo ter a M. só para mim.





25/03/2014

A Lição do Dia


Confesso que a situação em que me encontro não tem sido nada fácil de gerir.

Tenho uma filha com 16 meses que não pego ao colo desde o dia 11 de Dezembro, há quase 4 meses!!
Olhar para ela com os braços esticados para mim a pedir para lhe pegar e não faze-lo é de tudo o que tenho passado o mais difícil. É um verdadeiro sofrimento não poder desempenhar o meu papel de mãe.

As mães que me seguem, já se imaginaram 4 meses sem puderem pegar nos vossos filhos ao colo? Custa MUITO mas MUITO!

Sabe que sou a mãe, mas já percebeu as minhas limitações, e sempre que me apanha em pé por uma ida à casa de banho, vem a correr para a cama como quem diz: Deita-te, é aqui o teu lugar!
Na cabeça dela já assumiu por inteiro o meu estado horizontal. Felizmente é uma menina muito feliz e bem resolvida e tem lidado bem com a situação.

Não sou uma pessoa de me queixar muito, nem de me fazer de coitadinha, mas assumo que tenho os meus momentos menos bons e mais difíceis de ultrapassar, mas depois leio artigos como este http://m.mulher.sapo.pt/inicio/modal/noticias/atualidade/artigo/18110 e dou por mim a pensar, está mas é calada que daqui a uns 3 meses a tua vida vai voltar ao normal!!!


A Marta é amiga de uma amiga minha e a ligeireza com que escreve estas palavras, faz-me pensar que realmente a maneira como levamos a nossa vida depende somente da nossa disponibilidade para sermos ou não felizes, é como ela diz, as coisas passam mas lá está, passam e não podemos ficar lá. 

24/03/2014

Dos Diabetes Gestacionais


Hoje foi dia de sair de casa…Para ir ao Hospital!

Não foi consulta para ver do baby mas sim para ver da grávida.

Hoje tive consulta de controlo dos diabetes, as análises da glicose feitas às 25 semanas, acusaram diabetes gestacionais o que muito provavelmente se atribui a toda esta inércia.

Quem me conhece bem sabe o quanto isto é GRAVE, não puder comer o que quero e à hora que quero é um sofrimento. Sou pequena, magra mas no que toca a comer sou altíssima e roliça, ADORO comer, e nesta altura então tenho “umas fomes” incontroláveis e receber esta notícia foi quase motivo de choro.

Mais uma vez voltei a ficar meia perdida com falta de informação, tenho imensas amigas com filhos, muitas com dois algumas com três e só uma delas é que teve diabetes gestacionais, e foi há anooooooooos.
Ainda andávamos na faculdade quando a X. engravidou e o nível de consciência era muito diferente do que é agora, a X. era daquelas grávidas diabéticas que amuava quando o L. fervorosamente discutia com ela porque queria ir beber uma mini e comer um pratinho de caracóis, quando se tinha lambuzado na praia, não com uma, não com duas mas três bolas de Berlim. Mas atenção, o M. nasceu lindo e maravilhoso e, apesar da referida "inconsciência" recorri a ela e à experiência dela com a diabetes.

Fiz uma pesquisa exaustiva sobre o que era a diabetes gestacional e sobre o que poderia ou não comer, e relativamente ao que uma grávida com diabetes gestacional pode ou não comer a informação é escassa, acabei por perceber que cada grávida é uma grávida e o que eu posso ou não comer poderá não se aplicar a outra grávida na mesma situação.

Cada organismo é um organismo, pelo que, na minha opinião, no caso da diabetes gestacional nunca devemos seguir a dieta que a A, B ou C fizeram, a dieta deve ser adaptada a cada grávida, mediante os seus valores de glicose, organismos e gostos alimentares. Não acreditem que aquilo que resultou com uma amiga  grávida possa resultar convosco. 

Não se passa fome ao contrário do que pensava, confesso que não fico saciada conforme gostaria, mas fome não passo, assim como já percebi como é que a coisa funciona e de vez em quando dá para fazer uns disparates, no decorrer da dieta comi um pastel de nata e duas fatias de pizza e consegui manter os valores, vá lá.... aceitáveis J

Mesmo assim, continuo à procura de novos alimentos e pratos que possa adaptar à minha dieta de forma a não ficar saturada da dieta imposta.

Este é, desde há quase duas semanas o meu novo apêndice, 4 picadas diárias, ai…………odeio agulhas!!!!!





Até ver está a correr bem, tenho conseguido regra geral manter os limites impostos pela médica e hoje a palavra de ordem foi: Pode aumentar um bocadinho as quantidades dos alimentos – isto é música para os meus ouvidos J e se tudo correr bem só volto a esta consulta daqui a 5 semanas.

Agora é esperar para ver qual vai ser a próxima maleita, sempre que vou ao hospital venho doente, a última vez foi praticamente uma semana sem conseguir falar, diz o A. que foi uma semana Santa!!!!!!








22/03/2014

Ainda dizem que as mulheres são difíceis de agradar....


Estou há 101 dias sem sair de casa!!101!!

Quer dizer, quando saio de casa é para ir ao hospital e do hospital volto para casa, e sempre tudo com mil cuidados, como que jarra de vista alegre. 

Já imaginaram 101 dias sem fazer uma única compra? Hey sou uma míuda vaidosaaaaaaaaa......e pirosa.....

Depois aparecem-me em casa estes miminhos e eu vejo-me obrigada a pintar os lábios com cor a condizer com o pijama.




P.s. Lição da experiência: Aprender a dar valor a um objecto mesmo que possa parecer insignificante ou banal, aprender a dar valor  ao simples gesto de alguém que nos tenta alegrar e animar. 

21/03/2014

No dia Mundial da Poesia....




                    Poema Enjoadinho  

Filhos...  Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos?  Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
                                                                                                                              
                   "Antologia Poética"
                    Vinícius de Moraes

A minha cabeça esteve grávida de um blog! Hoje nasceu.....


É verdade, a minha cabeça esteve grávida de um blogue...muito tempo...hoje nasceu!!

Estou grávida!

Grávida de 27 semanas.....

Há 14 semanas quase 15 de cama, uma barriga que está a crescer na horizontal.

É difícil, muito difícil, ainda mais quando já tenho a M com 16 meses.

Felizmente não conheço ninguém que tenha passado por uma situação idêntica, razão pela qual ainda mais vontade tive de criar o blogue, a troca de experiências em situações menos boas por vezes ajuda a acalmar as duvidas e receios.

Mas mesmo grávida acamada, a minha vida continua num turbilhão.

Este vai ser o espaço onde partilho principalmente sentimentos, confesso-me simples e descomplicada e sem grande dom para brincar com as para palavras.

Bem vindos :-)