A P. do
Crónicas da Maternidade lançou o desafio: crónicas polémicas, lancei o assunto: Sexo depois da Maternidade, mas nunca pensei que me convidasse para ser eu a escrever sobre o que acabará de propor.
Mais do que polémico foi-me difícil de escrever, como poderia eu escrever de forma generalizada sobre um assunto tão pessoal, não foi de forma generalizada.
Tinha perfeita noção no que me estava a meter quando aceitei escrever
esta crónica, não é um assunto fácil, é complicado, delicado, talvez até meio
tabu para algumas mulheres.
Pensei muito na maneira como iria escrever sobre este assunto: no
plural? Mas quem sou eu para falar da experiência das outras mulheres? Uma
experiência tão pessoal. Quem sou eu para dizer que se deve fazer desta maneira
ou de outra? Dizer isto ou aquilo?
decidi não complicar, ir directa ao assunto, sem rodeios , sem tabus,
de forma simples, de forma real.
Quando a maternidade bateu à minha porta esta de imediato ocupou o
papel principal na minha vida, toda a minha vida girava à volta da bebé, todos
os meus poros respiravam bebé, não havia mais nenhum assunto que ocupasse ou
interessasse à minha cabeça, estava realmente imbuída, embrenhada neste meu
novo papel, esquecendo tudo o resto que me rodeava.
Passado pouco tempo a minha mãe perguntou-me se eu já tinha retomado a
minha vida sexual, vida quê? Essa era uma vida apagada e esquecida na minha
cabeça, não havia espaço, nem interesse nesse assunto.
Aos poucos comecei a pensar nisso, depois comecei a pensar mesmo
seriamente e apoderou-se de mim um medo, deitava-me lentamente na cama para ele
não dar por mim, afastava-me para não lhe tocar, ou ia a correr mais cedo do
que ele para a cama para quando chegasse eu estivesse a dormir, sabia que
talvez estivesse a ser egoísta mas e o medo?! O medo da dor, o medo de não
estar à altura, o medo de ele olhar para mim com outros olhos e que não me
desejasse, afinal a minha barriga era agora flácida, e o peito mole e descaído,
a vergonha dos quilos a mais, não me
sentia confortável no toque e pensava no que ele ia pensar, reagia ao toque
encolhendo-me ou acrescentado uma peça de roupa pensando ainda e se eu não
tivesse prazer? não me sentia capaz de me entregar, como me conseguia eu
entregar se eu não me aceitava fisicamente.
O afastamento físico por vezes levava à perda de cumplicidade, de
intimidade e isso assustava-me, e se ele salta fora? aliado ao facto de ter uma
bebé, ter que trabalhar, ter uma casa ainda tinha sobre os ombros esta
responsabilidade, tive muitas vezes vontade de até avançar mas o medo falava
mais alto, tinha vontade que fosse ele a dar o primeiro passo, queria que me
facilitasse a vida mas estava tão insegura que também não tinha coragem de lhe
dizer, ele não avançava, percebia e sabia dos meus medos e receios e
respeitava-me, às vezes era um alivio ele não avançar, outras vezes, pensava
que se não avançava não queria saber de
mim, não estava interessado, já não gostava de mim, ou se até tentava avançar
já não me estava a respeitar, preciso de tempo, de arrumar as ideias, hormonas
são vocês?
Aliado ao medo, o cansaço, a privação de sono, no fim do dia só queria
chegar à cama e tentar dormir as poucas horas que a bebé me deixasse.
Depois do medo e do cansaço, as hormonas, caramba afinal eram mesmo
elas…
Estas hormonas revoltadas que teimavam em tomar conta da minha
personalidade, da minha vontade própria, amamentar desencadeia uma alteração
hormonal que muitas vezes faz com que haja uma alteração da libido e existe uma
baixa de produção de estrogénio que interfere negativamente na sexualidade, o aumento
da Prolactina, hormona que provoca a anti líbido, o anti desejo sexual leva à
diminuição do estrogénio que dificulta a lubrificação vaginal que causa o
desconforto, o que acarreta a perda de desejo por associar a relação sexual à
dor e que bloqueia a produção de testosterona.
Como é que eu podia fazer frente a isto? Testosterona onde andas tu? É
que ele caiu num caldeirão.
Neste assunto, julgo que a cabeça recupera bem mais devagar do que o
corpo, a vida sexual é certamente um dos pontos mais afectados na relação de um
casal depois da chegada dos filhos, por uma mistura de questões hormonais,
físicas, emocionais e até mesmo de prioridades, mas é uma fase até serem
ultrapassados todos os medos, depois tudo volta ao normal e passado algum tempo
já estamos a pensar em engravidar outra vez e nessa altura somos nós quem
pensamos em sexo a toda a hora.
Este é um assunto sem fim, com opiniões, vivências e experiências tão
próprias, mas atrevo-me a falar no plural para afirmar que retomar a vida
sexual depois do parto é assunto que mete medo a muitas mulheres.
E sim, já temos outro filho!
♡♡♡♡