21/11/2014

A vida sexual depois da maternidade. Vida quê??!

A P. do Crónicas da Maternidade lançou o desafio: crónicas polémicas, lancei o assunto: Sexo depois da Maternidade, mas nunca pensei que me convidasse para ser eu a escrever sobre o que acabará de propor. 

Mais do que polémico foi-me difícil de escrever, como poderia eu escrever de forma generalizada sobre um assunto tão pessoal, não foi de forma generalizada.

Post escrito para o Crónicas da Maternidade




Tinha perfeita noção no que me estava a meter quando aceitei escrever esta crónica, não é um assunto fácil, é complicado, delicado, talvez até meio tabu para algumas mulheres.

Pensei muito na maneira como iria escrever sobre este assunto: no plural? Mas quem sou eu para falar da experiência das outras mulheres? Uma experiência tão pessoal. Quem sou eu para dizer que se deve fazer desta maneira ou de outra? Dizer isto ou aquilo?
decidi não complicar, ir directa ao assunto, sem rodeios , sem tabus, de forma simples, de forma real.

Quando a maternidade bateu à minha porta esta de imediato ocupou o papel principal na minha vida, toda a minha vida girava à volta da bebé, todos os meus poros respiravam bebé, não havia mais nenhum assunto que ocupasse ou interessasse à minha cabeça, estava realmente imbuída, embrenhada neste meu novo papel, esquecendo tudo o resto que me rodeava.

Passado pouco tempo a minha mãe perguntou-me se eu já tinha retomado a minha vida sexual, vida quê? Essa era uma vida apagada e esquecida na minha cabeça, não havia espaço, nem interesse nesse assunto.

Aos poucos comecei a pensar nisso, depois comecei a pensar mesmo seriamente e apoderou-se de mim um medo, deitava-me lentamente na cama para ele não dar por mim, afastava-me para não lhe tocar, ou ia a correr mais cedo do que ele para a cama para quando chegasse eu estivesse a dormir, sabia que talvez estivesse a ser egoísta mas e o medo?! O medo da dor, o medo de não estar à altura, o medo de ele olhar para mim com outros olhos e que não me desejasse, afinal a minha barriga era agora flácida, e o peito mole e descaído, a vergonha dos quilos a mais,  não me sentia confortável no toque e pensava no que ele ia pensar, reagia ao toque encolhendo-me ou acrescentado uma peça de roupa pensando ainda e se eu não tivesse prazer? não me sentia capaz de me entregar, como me conseguia eu entregar se eu não me aceitava fisicamente.

O afastamento físico por vezes levava à perda de cumplicidade, de intimidade e isso assustava-me, e se ele salta fora? aliado ao facto de ter uma bebé, ter que trabalhar, ter uma casa ainda tinha sobre os ombros esta responsabilidade, tive muitas vezes vontade de até avançar mas o medo falava mais alto, tinha vontade que fosse ele a dar o primeiro passo, queria que me facilitasse a vida mas estava tão insegura que também não tinha coragem de lhe dizer, ele não avançava, percebia e sabia dos meus medos e receios e respeitava-me, às vezes era um alivio ele não avançar, outras vezes, pensava que se não avançava  não queria saber de mim, não estava interessado, já não gostava de mim, ou se até tentava avançar já não me estava a respeitar, preciso de tempo, de arrumar as ideias, hormonas são vocês?

Aliado ao medo, o cansaço, a privação de sono, no fim do dia só queria chegar à cama e tentar dormir as poucas horas que a bebé me deixasse.

Depois do medo e do cansaço, as hormonas, caramba afinal eram mesmo elas…

Estas hormonas revoltadas que teimavam em tomar conta da minha personalidade, da minha vontade própria, amamentar desencadeia uma alteração hormonal que muitas vezes faz com que haja uma alteração da libido e existe uma baixa de produção de estrogénio que interfere negativamente na sexualidade, o aumento da Prolactina, hormona que provoca a anti líbido, o anti desejo sexual leva à diminuição do estrogénio que dificulta a lubrificação vaginal que causa o desconforto, o que acarreta a perda de desejo por associar a relação sexual à dor e que bloqueia a produção de testosterona.
Como é que eu podia fazer frente a isto? Testosterona onde andas tu? É que ele caiu num caldeirão.

Neste assunto, julgo que a cabeça recupera bem mais devagar do que o corpo, a vida sexual é certamente um dos pontos mais afectados na relação de um casal depois da chegada dos filhos, por uma mistura de questões hormonais, físicas, emocionais e até mesmo de prioridades, mas é uma fase até serem ultrapassados todos os medos, depois tudo volta ao normal e passado algum tempo já estamos a pensar em engravidar outra vez e nessa altura somos nós quem pensamos em sexo a toda a hora.

Este é um assunto sem fim, com opiniões, vivências e experiências tão próprias, mas atrevo-me a falar no plural para afirmar que retomar a vida sexual depois do parto é assunto que mete medo a muitas mulheres.

E sim, já temos outro filho!

5 comentários:

  1. Parabéns!
    É mesmo esse o sentimento.
    Agora deixo-lhe outro tema. E sexo depois de um aborto?

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    1. :-) Obrigada
      Infelizmente também tenho legitimidade para falar sobre esse tema, pode ser que sim.
      Bj <3

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    2. Muito obrigada. :)
      Infelizmente é algo que acontece muito mais do que se imagina e nós mulheres temos tendência a esconder.
      E então retomar a vida sexual após um aborto só ouvi falar por parte do meu obstetra. Nem entre mulheres se fala dessa parte da nossa vida.
      Penso que seria um assunto muito importante e interessante para partilhar, pois só quem passa por ele é que compreende certas atitudes e comportamentos.
      E nós mulheres, que tivemos a infelicidade de passar por esses momentos de perda, poderemos sem dúvida alguma exprimir sentimentos que certamente serão comuns a muitas de nós e que só serão compreendidos também por nós.

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  2. Obrigada...um MUITO OBRIGADA por esta partilha. Como mãe recente foi importante ler a sua experiência e perceber que não estou só!
    Um beijinho
    Inês

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