Durante a gravidez do V. diziam-me várias vezes que era uma valente,
uma corajosa por vezes ouvia até, uma heroína.
Fui? Não, claro que não.
Mais do que uma amiga me disse que não aguentava o que eu passei, que
lhes era impossível permanecer numa cama durantes meses.
Ai não, então? Qual era a solução? Qual era a mãe que não fazia
exactamente o que eu fiz?
Uma amiga que no outro dia falava sobre mim a terceiros, defendia
fervorosamente a minha valentia, que me comparava, e que rematou com: e estava
sempre de sorriso na cara. Que suspeita!
Enfrentei a situação sempre com pés na terra, sempre de cabeça fria e
sempre a acreditar que o dia seguinte seria melhor que o anterior, nunca me
entreguei, nunca me deixei trair pelos vários contratempos, se foi difícil? Sim
foi, tanto, muito, imenso, mas afinal de contas acontecesse o que acontecesse
eu já era mãe, eu já tinha uma filha que precisava de mim e tinha que estar bem
nem que fosse só psicologicamente para e por ela.
Tive muitos baldes de água fria, muitas desilusões, como quando achava
que íamos no bom caminho e voltávamos à estaca zero, 7 internamentos, e cada
vez que dava entrada no hospital e até ao momento em que aquele ecografo
encontrava um coraçãozinho a bater eram momentos tortuosos.
Nada do que passei faz de mim uma heroína, quis a natureza que as
coisas fossem desta forma e tive que me conformar com isso.
A forma como encarei a situação não faz de mim pior ou melhor, as
coisas são como são, sempre me foi incutido pela minha Mãe o espírito de que: o
que tem que ser tem muita força; o que tiver que acontecer acontece; o caminho
é para a frente; não dar importância ao que não importa; não
perder tempo com o que não vale a pena; há coisas piores; não me entregar; a
dor e o que sentimos não tem hierarquia; não és mais do que os outros...
Confesso que quando era mais nova me irritava esta maneira de ser da
minha Mãe, este sentido pratico e calculista que a meu ver até roçava a frieza,
gostava que ela às vezes me passasse a mão na cabeça e me deixasse mergulhar
nas minhas mágoas, mas não, a resposta era sempre, mas que importância é que
isso tem? Mas isso é um problema? Hoje percebo a sua intenção e agradeço, e
não, ela afinal não é calculista nem fria, ela simplesmente não quis uma filha
frágil e por vezes insegura como ela o é.
Afinal nem todas as Mães querem/criam os filhos à sua semelhança!
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