Neste pequeno hospital montado em plena sala, ainda há espaço para um escritório.
Este é o meu escritório, sim eu
trabalho apesar das circunstâncias.
Mas isto só é possível quanto
temos “entidades patronais” que nos permitem que isso aconteça.
Entidades patronais entre aspas
porque na realidade sou prestadora de serviços, não estou sujeita a qualquer
contrato de trabalho que protege os direitos de uma grávida e do seu bebé, pelo
que se não estivesse a trabalhar, estava aqui uma bela situação, até porque,
sou uma prestadora de serviços com uma caixa de previdência própria que para os
casos em que me encontro não tem disponível qualquer subsídio para as suas contribuintes.
Estava nesta empresa há 2 meses
quando descobri que estava grávida do V., não são 2 anos, são 2 MESES!
Esta foi a parte que mais me
assustou, a situação profissional precária em que me encontrava e na realidade
encontro…no entanto, a reacção à notícia da gravidez foi a melhor, e descansei!
Quando no dia 11 de Dezembro
liguei a informar que estava no hospital (tinham passado agora 4 meses desde
que tinha entrado na empresa) e que tinha, supostamente de ficar em casa por
duas semanas, a primeira coisa que me disseram foi: O que interessa é que tu e
o bebé fiquem bem, cá nos arranjamos!
(Atenção: o meu chefe é um
homem! Não é administrador da empresa mas tem uma palavra a dizer enquanto team
leader de uma equipa na qual estou integrada)
O tempo foi passando a situação agudizou-se
e foi-me dada a possibilidade de trabalhar a partir de casa, o melhor que me
podia ter acontecido sob pena de já estar louca a esta altura.
O facto de trabalhar ajuda muito,
cada vez que era internada obrigava o A. a vir a casa buscar o computador,
estava obcecada com o trabalho, agora a frio, acho que esta obsessão não era
nada mais nada menos do que o meu escape, queria sentir-me ocupada e acima de
tudo queria sentir-me útil.
A realidade é que até hoje não
consegui lá por a barriga, digam lá se eles não me podiam ter posto a andar? O
quê estás aqui há 2 meses e estás grávida? Estás aqui há 4 meses e dizes que se
calhar só voltas quando o bebé nascer? Mas que obrigação é que eles tinham de
manter uma pessoa nestas condições quando infelizmente há carradas de pessoas à
procura de trabalho…nenhuma!
Mas felizmente ainda existem
empresas bem estruturadas e bem administradas, estando à sua frente pessoas
compreensivas, humanas e que têm a capacidade de olhar para os seus “funcionários”
não como mais um, mas como o “funcionário” que está lá para fazer o barco
andar.
Trabalho a partir de casa no alto
da minha cama articulada, e tento diariamente ser o mais disciplinada possível
e fazer os horários que faria se lá estivesse a trabalhar fisicamente, continuo
a esforçar-me e a dedicar-me tal como faria se lá conseguisse estar, para mim,
nada mudou.
Temos que ter a capacidade de
saber agradecer quando o devemos fazer e não, falar só para criticar, não sei
se tive sorte, se é por uma questão de necessidade, não sei o que é, sei que
tenho e devo agradecer o facto de me terem deixado manter a minha sanidade
mental, caso contrário o nome deste blogue era: Crónicas de uma Grávida Acamada
internada num Hospício.
Obrigada!
♡
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