Fiz 40 anos e lidei mal com isso, fiz uma sessão fotográfica muito gira para uma marca portuguesa de fatos de banho, decidi ter uma cadela e a Olívia é a menina dos meus olhos, vivi uma quarentena, fui mãe, professora e cozinheira a tempo inteiro e dediquei-me em exclusivo aos meus filhos, aproveitei muito os meus filhos, vi-os crescer a uma velocidade estonteante, o (meu) mundo parou, coloquei várias vezes em causa a minha vida num todo, desesperei várias vezes, tornei-me Netflix addicted, o V. entrou para o 1º ano e revelou-se um óptimo aluno, a M. tornou-se uma menina crescida e responsável, sou despedida, terminei projectos e comecei projectos, a maternidade fez-se sentir difícil, tive umas férias de verão cheias, tive amigas que se mantiveram ao meu lado de pedra e cal neste que foi um ano negro e fortalecemos laços que já eram fortíssimos, chorei muito mais do que devia e queria, desiludi-me com pessoas, fui julgada sem razão, todos os dias disse aos meus filhos que os amo, li muito, tentei manter-me o mais ocupada possível, fui submetida a uma cirurgia em plena pandemia, dependi de terceiros, tive mais dias tristes do que felizes, percebi que as pessoas, o calor humano, os abraços e os beijos são essenciais no dia a dia, continuei a ter muita dificuldade na pratica do desapego, tentei fugir a isso mas serei sempre uma eterna sonhadora, estreitei relações e dilatei outras, chorei muito, muito mais do que me ri, voltei a reinventar-me profissionalmente e estou a tornar-me mestre nesta arte, senti-me perdida e sem rumo muitas vezes, fechei os olhos e respirei fundo muitas outras vezes, continuei a ter dificuldade com isto da expectativa, vinquei ainda mais o que quero e o que não quero para a minha vida, estipulei planos e prazos, tive a sensibilidade e a irratiblidade à flor da pele, tive um volte face na minha vida profissional e trabalhei mais que nunca, ofereci a mim própria um mega presente de natal porque achei com convicção que o merecia, tentei ser pratica, fui dura comigo própria, um dia abri o guarda roupa e foi (quase) tudo a eito, cometi erros, arrependi-me, tive certezas, tive duvidas, tive medo, aprendi, perdi, a vida deu-me uma lição enorme, tive noites e noites seguidas com insónias, coloquei-me poucas vezes em primeiro lugar, fui mais frágil do deveria ser, percebi que algumas coisas levam tempo e que outras o tempo leva e no final conclui que 2020 não é um ano para esquecer mas sim para lembrar.
Feliz (não deverá ser difícil) 2021!
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