12/08/2014

Das coisas que não se perguntam


Vivemos numa sociedade que praticamente nos obriga a esta vida esteriotipada, nascemos e crescemos sempre a perguntarem-nos o que queremos ser quando formos grandes? vamos para a faculdade acabamos o curso e começa a questão, quando é que casas? Casamos e ainda no dia do casamento, queres ter filhos? então e agora o bebé é para quando? depois do 1º filho e ainda na maternidade, para quando um irmão?...

A maternidade tem sido para mim um constante ensinamento, não só enquanto mãe mas enquanto mulher, enquanto pessoa, aprendi que há coisas que não se perguntam, não se pergunta a uma mulher, queres ter filhos? então e quando é que vem o bebé? por trás desta pergunta pode haver uma resposta difícil, uma resposta dolorosa e não a típica resposta, um dia!

Um dia também eu estive grávida não uma mas duas vezes antes da M., foram gravidezes sem sucesso que me foram difíceis de superar, difícil de superar por quem tanto anseia a maternidade. E sim, faziam-me às vezes as perguntas que considero proibidas, por vezes respondia o politicamente correcto, um dia! outras vezes respondia de forma a terminar logo a conversa, quando a natureza o permitir! outras vezes fingia que não ouvia, mas a realidade é que às vezes me apetecia responder de forma mal educada, não tens nada a ver com isso!

Parece que o sentir na pele não me foi suficiente, quando estava ainda grávida do V., e na última consulta antes do parto, encontrei a R. no hospital, a R. foi minha colega de faculdade, daquelas que tive mesmo pena de não conseguir manter como amiga, sempre gostei muito dela, divertida, bem disposta e sempre de sorriso na cara, perguntei-lhe se estava grávida e por isso estava ali, arrependi-me de imediato, mas respondeu-me que sim e suspirei de alivio, perguntei-lhe se era a 1ª vez, tinha a sensação de que ainda não tinha filhos raios partam o Facebook, respondeu-me que não, já tinha tido uma gravidez anterior e perdera.

Não foi por mal queria de alguma forma transmitir-lhe confiança e esperança e começo a dizer-lhe que não fique triste afinal de contas não conseguir levar uma gravidez a bom porto é mais comum do que se pensa e que eu própria antes da M. tinha perdido uma vez com 9 semanas outra vez com 10 semanas, e o stress a que estamos sujeitos e bla bla bla e ela de imediato me calou: Eu estava de 35 semanas! 

Fiquei literalmente sem chão, gelei, engoli em seco, afinal eu estava quase a fazer 35 semanas, senti-me a pessoa mais estúpida ao cimo da terra, na minha cabeça imaginava-me a bofetear-me a mim própria, desfiz-me em desculpas e disse-lhe que me sentia ridícula. 

Este episódio tem quase 3 meses e todos os dias me assalta o pensamento, não consigo esquecê-lo por nada.

Aprendi de uma vez por todas que há coisas que não se perguntam.

Querida R., mais uma vez desculpa! Um beijo do tamanho do mundo

5 comentários:

  1. Concluo com isso, que não é por maldade que se fazem essas perguntas proíbidas. perguntam porque é o ciclo natural das coisas, o sonho de quase toda a mulher; encontrar o principe ,casar, ter filhos... Pior acho as pessoas que escondem o facto de não conseguirem ter filhos com desculpas esfarrapadas quando meio mundo já sabe a verdade... é uma triste realidade bem mais comum do que se pensa. A mim fizeram todas essas perguntas e nunca me ofendi com nenhuma , depende tudo do ponto de vista.

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    1. Cara Anónima,
      Entendo também o seu ponto de vista.
      As pessoas que o escondem fazem-no porque lhes é dolorosa a situação e nem todas as pessoas lidam com as situações de igual forma.
      A mim também me fizeram todas essas perguntas e para lhe ser sincera também nunca me ofenderam, mas confesso que me custava quando me perguntavam quando é que ia ter filhos, o que estava para trás vinha ao de cima e ficava triste, só isso, triste e não ofendida.
      E sim tem toda a razão quando diz que não é por maldade que são feitas as tais perguntas proibidas, mas nunca sabemos a quem as estamos a fazer e o quanto podem ser difíceis de ouvir.
      Obrigada pelo seu ponto de vista :-)
      Um bj <3

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    2. Obrigada! Obrigada! Obrigada! Concordo com cada palavra sua! As pessoas não "escondem" atras de "desculpas esfarrapadas" e a "verdade que o meio mundo sabe" ou melhor PENSA que sabe não é de todo relevante ou pertinente para uma dor intima e privada do casal. Ainda há muito pouco respeito pelo direito à privacidade; ainda há a necessidade da exposição à sociedade - por que tenho de justificar, explicar ou me desculpar publicamente por ainda não ter podido ter os tão desejados filhos? Por que não tenho o direito de guardar para mim e os outros têm o direito de invadir a minha esfera pessoal e me inquirir, remexendo na minha dor, apropriando-se do meu sofrimento? Se eu disser que não conseguimos já é tudo aceitável, já posso continuar a ser uma boa MULHER... "Coitada! Ela até queria..." - como já ouvi sobre mim quando achavam que eu não estava presente"

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  2. Cada vez mais me identifico com as suas crónicas.
    Espero que continue a ter tempo para nos presentear com as suas palavras.

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